![]() 1ª. Um filme chamado "Latido Latino" sobre a vida da comunidade latina em NY. Latido é a palavra espanhola que descreve os batimentos do coração. Exemplo:" Ay, amor mío, que desesperadamente absurdo es estar vivo, sin en el alma de tu cuerpo, sin tu latido..." (música de Luis Eduardo Aute, artista espanhol). Comecei a chorar na metade do filme e não parei mais. Que povo sofrido e guerreiro é o latino-americano. 2ª. Umas das professoras, uma espanhola que vive em Salvador há 7 anos, deu uma aula maravilhosa sobre Componente Sócio-Cultural. Os temas rendiam boas discussões e, às vezes, saíamos muito da proposta inicial, mas tava ótimo, tudo era muito enriquecedor. Exemplo: ela falou que quando era recém-chegada em Salvador (e eu conheço cidades brasileiras o suficiente pra saber que não é uma característica local) ficava espantada com as crianças de 8, 9 meses que iam à praia de biquini (sutiã e tanguinha). Que na Espanha as crianças até uns 7, 8 anos de idade usam apenas calcinha na praia, que ela achou uma erotização desnecessária, uma necessidade de marcar o feminino tão precocemente, algo de agressivo sob o seu olhar de estrangeira. Disse também que aqui é comum se relacionar o feminino com o que é externo: cabelão, adornos, transparências, alças e decotes. Que é comum nós tacharmos uma turista estrangeira de "mulher-macho ou sapatão" (palavras dela). Daí alguém questionou: mas é porque elas não se adornam, usam roupas muito folgadas e tals. E ela falou: "o que é adorno? Até isso é um componente cultural". E ela disse mais: "Eu tenho alunas que vão pra sala de aula com saias tãooo curtas que eu fico alguns segundos sem palavras e penso 'Dios mío, onde ela pensa que vai com essa roupa?'. Hoje até me acostumei, mas no início era chocante. Por isso eu assisti uma entrevista com uma mulher (típica mulata carioca) que foi pra Espanha, dizendo que sofreu preconceito lá, como se ela fosse uma prostituta. E eu pensei: 'realmente, se ela foi vestida desse jeito, acharam mesmo que ela era uma prostituta. Ninguém se veste assim na Espanha'. Foi um choque cultural grande. A policia não a entendia e ela não entendia a polícia" Ela disse milhares de outras coisas interessantíssimas. Mas o que mais me chamou a atenção foi essa relação entre o femininino e o sensual. Incrível, como existe uma quase uma obrigação de ser sexy, bonitona, cabeluda, elegante, decotada, no salto e gostosa nesse país. Não se pode sentar à vontade, nem usar sapatos confortáveis, nem andar de bermudão e descabelada. E, credo, como isso é cansativo. Todas as professoras espanholas estavam vestidas tão despretensiosamente, de sapato baixo, roupas bem folgadas, tecido molinho, muito à vontade dentro da própria pele. Putz!! Essa é uma coisa que eu admiro nas mulheres européias: elas não sentem essa necessidade de se vestir para os outros. A sociedade brasileira é tão cruel nesse ponto. Cruel com quem não segue o padrão e cruel, especialmente, com quem questiona, quem afronta o padrão. Não ser "vaidosa" é um crime imperdoável a uma mulher brasileira. Conversando com uma pessoa bem próxima a mim sobre essas questões, eu escutei: "mas funciona assim, a nossa cultura é essa". Caraí, taí outra coisa que me espanta no brasileiro, essa eterna síndrome de Gabriela: "Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim..." Tá difícil, viu? |