De 1998 - 2004 eu trabalhei com surdos. Era intérprete.

Em 2000 organizamos (eu e mais 4 pessoas) um Congresso Nacional de Surdos e Intérpretes em Salvador. O primeiro da história.
Eu tinha 21 anos, nem faz tanto tempo assim. Ontem, porém - assitindo as gravações do Congresso que ficaram sumidas por 5 anos e apareceram agora num golpe de sorte - eu me senti tããão diferente: mais sonhos, mas entusiamos, menos ceticismo, mais romantismo. Morri de saudade de tudo: das pessoas que conheci (cerca de 300), dos risos, da festa, até das lágrimas. E vi tanta coisa que estava em algum lugar bem escondido da minha memória

No final um dos congressistas agradecia e dizia algo mais ou menos assim "agradeço a todos vocês porque fomos muito bem recebidos e agradeço três pessoas que foram as primeiras que eu guardei o nome: Andrea (minha irmã), Daniela e Lene por estarem sempre acessíveis e também à mãe da Dani e da Dea que se dispôs a receber os ônibus, com tanta energia, que parecia mais nova que todas as menininhas" :-)

Poisintão. Não basta ser mãe, tem que participar. Me lembro que não havia ninguém para recepcionar os ônibus e o local do Congresso era complicado de chegar para quem não conhecia a cidade e dispunha de apenas um mapa. Éramos só nós cinco mesmo pra organizar tudo. Os alojamentos não estavam 100% prontos e simplesmente não podíamos ir esperar ônibus e deixar o resto sem fazer. E aí entrou a super mãe na história, que se ofereceu pra recepcionar as pessoas, levá-las até o Pelourinho (perto do local do Congresso) para uma rápida visita enquanto terminávamos tudo.

Quando cheguei no alojamento e vi que nada estava pronto, que o grupo de surdos e intérpretes que havia se comprometido a nos ajudar (mais ou menos umas 20 pessoas) não havia feito absolutamente nada, eu me desesperei e comecei a chorar, chorar.. (eu e Dea, aliás...hohohohohoho...que mico!). Éramos os primeiros a acordar (para verificar os banheiros, o café e etc) e os últimos a dormir (depois de lavar os banheiros). Quase não sentávamos. Algumas pessoas sequer viram a programação (eu tive mais sorte), estávamos sempre correndo, subindo escadas, providenciando coisas, fazendo mágica. O prédio tinha 4 andares (mais andares no subsolo onde aconteciam as palestras) e nenhum elevador e acho que emagreci uns 5 quilos....hohohohoho

Aprendi muito sobre pessoas durante aquele ano de preparativos e durante os 5 dias de congresso. Aprendi a ser mais cínica também, mais cética e menos romântica. Aprendi que existe gente que quer te sabotar, ponto. E aprendi que a ajuda pode vir de onde você nunca esperava.

Eu amava trabalhar com surdos mas não penso em voltar (as razões são várias e não vou falar disso aqui). Mas deu uma saudade tão grande, tão grande. De mim, eu acho.