Ia dizer que odeio formalidades. Mentira! O que não suporto mesmo são as pessoas. Falo sempre das formalidades por educação, e também porque é na formalidade que as pessoas se sentem mais à vontade para serem intragáveis; afinal, você não tem mesmo pra onde correr quando, por exemplo, um chato senta a seu lado numa colação de grau e quer travar intimidades. Me esgotam as pessoas... com seus nascimentos, suas mortes, suas datas comemorativas, visitas na convalescença e festas de aniversário. No micro, mas não em menor grau, me esgotam telefonemas-do-dia-seguinte, ter que se despedir de "N" sujeitos em recepções e responder como anda o pessoal lá de casa para estranhos. Ah! Percebam que eu falei "seus nascimentos", "suas mortes", etc... alguém mais atento já está recriminando meu deslocamento nessa questão: não seria mais correto "nossos nascimentos", "nossas mortes"...? Seria, seria. Esse é um péssimo hábito que eu tenho, e guardo-o com carinho: a ilusão de que se incomoda comigo quem quer. Por isso tirei o "meu nascimento", "minha morte", e os outros "meus" do rol das coisas chatas que acabamos tendo que fazer para com as pessoas. Veja bem, isso é uma mentira que eu escolhi acreditar, egoísta, ingrata até... mas por hora, não tenho interesse em parar de acreditar nela. Ao invés de você perder seu tempo achando-me infeliz, aproveite-se disso e use como desculpa: a próxima vez que você não quiser aparecer em meu aniversário, alegue que eu mesmo te abonei desses "compromissos". Por falar nisso, meu aniversário mesmo, eu não faço questão...tem até certos anos que eu gostaria de fazer logo dois aniversários, de vez, para ter o desconto no ano vindouro e me ver livre de...bem, adivinhe! Veja, falo dessas formalidades, porque falo das pessoas, ou melhor, porque falo da alta concentração, em quantidade e intensidade, de pessoas em contextos formais. É na formalidade de uma morte em casa que aquele seu vizinho com quem você mal troca um "bom dia..." resmungado se acha no direito de tecer uma demorada elucubração acerca dos descaminhos do mundo, da natureza intrínseca de todas as coisas e da importância da resignação. É na formalidade de uma data comemorativa que aquela figura do trabalho que sempre atrasa seu lado no serviço se acha no direito de fazer - e esperando interlocução! - uma retrospectiva do ano que passou, enquanto divide com você um espumante qualquer numa taça de plástico. O que seria daquela sua parenta que você mal sabe o nome se não fosse a formalidade do seu aniversário? Daí ela, que nunca fala contigo durante todo o ano, pode te ligar na hora do almoço e ficar 40 minutos tentando se inteirar de sua vida, enquanto a feijoada esfria no prato. É isso que me incomoda...as pessoas estão sempre sobrando, não cabendo em si mesmas. *********************************** A minha irmã viajou na terça. Estou me sentindo mal, claro. Chorei, briguei com quem não devia, faltei trabalho e me atrasei para reuniões importantes porque não queria ver ninguém, menti para quem me perguntou se eu tinha um tempo livre pra conversar. Resumindo: só fiz merda. Eu gosto de sentir pena de mim mesma de vez em quando. Isso dura cerca meia hora e depois passa. Relaxem. *********************************** A Ka e a Mary, parecem ter chegado a uma conclusão que traz alguma esperança para o meu caso: o que nos faz, brasileiros, ter tanta preocupações com o futuro é o fato de sermos brasileiros!!. País com um histórico de instabilidades econômicas, sacumé, fica todo mundo previnido. Então, o meu caso (preocupação obsessiva com o futuro, angústia e apatia, sensação de que as provisões para o futuro estão sempre insuficientes, dentre outros sintomas) tem solução: preciso de um transplante de identidade nacional. Caso de URGÊNCIA! Confiram o post da Ka de hoje. ************************************ Eu tenho mais coisa para falar, mas é o tipo de coisa que ninguém gosta de ouvir. ************************************ A propósito, não fui em quem escreveu aquele texto acima. É de autoria do meu amigo Gabriel Swahili. Mas, nesse momento de minha vida, poderia perfeitamente ter sido eu. ************************************ Beijos pra vocês também! ************************************ APDEITE: Apois. Ces viram? Eu só quero saber onde está aquele povo todo que defendeu a maravilhosa polícia britânica que sequer usa armas. Triste é que o rapaz perdeu a vida e nada vai mudar isso. |