A Ana citou um artigo publicado em O Globo onde José Roberto Pinto de Goés critica o pretenso equívoco do Presidente Lula ao pedir desculpas pela escravidão quando de sua visita ao Senegal. Sem entrar no mérito da questão, queria me ater a um dos argumentos usados pelo autor. "Beneficiavam-se da escravização e do tráfico as elites africanas, os comerciantes de escravos (africanos, europeus, brasileiros etc.) e aqueles que os compravam e viviam do trabalho deles" Não que eu queria negar aqui que os povos africanos escravizados, em sua maioria, eram capturados por outros povos africanos. Mas esse argumento remete àquela história de que os africanos apenas foram escravizados porque eram desunidos, um argumento absolutamente perverso e que reduz a multiplicidade do Continente Africano a meia dúzia de tribos. Ninguem fala que a distância entre a Inglaterra e a França é de 33 quilômetros separados por um pedaço de mar chamado Canal da Mancha, mas que tais nações permaneceram inimigas históricas, envolvendo-se em diversas guerras, sendo a Guerra dos 100 anos um exemplo de que não eram tão unidas. Fala-se muito das guerras em África, como se pudessemos considerá-las sem considerar o colonialismo europeu. É mais fácil imputar o caráter de desunidos aos povos africanos, aos indígenas, aos esquimós e todos os povos que sofreram com o colonialismo europeu. Acusar os negros de serem co-responsáveis do longo processo de escravização é o mesmo que dizer que os empregados judeus dos campos de concentração são co-responsáveis pelo holocausto. Não que eu desconsidere a responsabilidade que os negros têm sobre seu próprio destino mas houve um processo estatal promovido pelas nações européias e que foi responsável pela escravidão moderna com efeitos que permanecem até hoje. A população branca foi a principal privilegiada nesse processo todo e, como tal, deve arcar com mais responsabilidades. Dizer que se beneficiaram da escravidão africanos, europeus e brasileiros, colocando-os todos no mesmo patamar de responsabilidade é , na melhor das hipóteses, um equívoco. |